Duas semanas dedicadas à conscientização e à sensibilização para questões raciais com o tema “Memória, Direito e Arte como caminhos”: a 2ª edição do Circuito da Equidade Racial, promovida pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1), celebrou o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra (20 de novembro) com diversas ações.
O circuito teve como objetivo fomentar o debate sobre inclusão e combate ao racismo estrutural, alinhando-se aos compromissos assumidos pelo Poder Judiciário brasileiro e às diretrizes da Política Nacional de Equidade, Diversidade e Inclusão.
Nesse sentido, o evento deste ano apresentou a vida e a obra de Lélia Gonzalez – pioneira na pesquisa acadêmica sobre raça, gênero e classe no Brasil, autora, ativista, professora, filósofa, doutora honoris causa pela UnB e antropóloga. Houve a exposição “Projeto Memória Lélia Gonzalez” e a exibição do documentário “Lélia Gonzalez: caminhos e reflexões antirracistas e antissexistas” a alunos da rede pública do Distrito Federal e do Estado de Goiás.
Na abertura do circuito, a vice-presidente do TRF1, desembargadora Gilda Sigmaringa Seixas, lembrou que a 1ª Região da Justiça Federal é a que tem o maior número de pessoas negras no país. “Estados como Maranhão, Bahia, Pará, Tocantins e Rondônia possuem uma população negra que ultrapassa 70% em algumas regiões, refletindo, por isso, uma história rica de resistência e cultura afrodescendente”.
Essa grandeza territorial, explicou a desembargadora, concentra milhares de localidades quilombolas reconhecidas “que nos exigem um dever de excelência” e faz do TRF1 a corte “que mais concentra processos sensíveis e estratégicos para a população negra. Essa realidade nos coloca em uma posição central para implementação e efetivação de políticas públicas que promovem a justiça social, a preservação cultural e, também, a relevância histórica”, destacou.
A abertura do evento também contou com a presença da desembargadora federal Ana Carolina Roman, presidente do Comitê de Equidade Racial da Justiça Federal da 1ª Região (Coer-JF1). A magistrada destacou que a escolha do tema do 2º Circuito, “Memória, Direito e Arte como Caminhos”, reflete a verdade “de que promover a equidade racial exige esforços contínuos e uma atuação institucional estratégica e sensível. (…) E como uma instituição pública, especialmente do Poder Judiciário, temos a responsabilidade de reconhecer esse cenário de desigualdade e aprimorar nossas práticas para que o acesso à Justiça seja igualitário e de fato se trate de acesso à Justiça”.
Também houve apresentação da poetisa Maria Cristina Guilherme e da historiadora Melina de Lima, neta de Lélia Gonzalez, e de seu pai, o economista Rubens Rufino.
Confira neste link como foi a abertura do 2º Circuito da Equidade Racial do TRF1
Educação antirracista
Um dos pontos de destaque do circuito foi a promoção de uma educação antirracista. “Para que as pessoas possam preservar a memória e, com isso, não repetir os erros do passado e construir um futuro em que realmente a gente veja a equidade racial sendo aplicada”, explicou a coordenadora do Coer-JF1, juíza federal Mara Lina Silva do Carmo, na abertura do evento.
E para isso, as ações do Circuito, que aconteceu até o dia 28 de novembro, incluíram a visita de alunos da rede pública de ensino à exposição do Projeto Memória, ao Memorial do TRF1 (onde está a toga da desembargadora federal Neusa Maria Alves da Silva – primeira juíza negra a integrar o quadro de magistrados do TRF1) e à exibição do documentário sobre a vida e obra de Lélia Gonzalez.
Segundo o professor Adelson Marques – que acompanhou as(os) estudantes do Centro Interescolar de Língua de Ceilândia (CILC), primeira turma a visitar o circuito –, a proposta do evento veio ao encontro do projeto pedagógico do ensino público. “Questões como essa fazem com que eles se sensibilizem ainda mais para construir um futuro melhor enquanto cidadãos, formando um pensamento crítico em torno de uma questão tão séria e tão profunda como é a questão da consciência negra”, afirmou o professor.
Futuro esse que a aluna Maísa, do 6º ano do Centro de Ensino Fundamental 33 de Ceilândia (CEF33), pôde imaginar quando posicionou o seu rosto acima do manequim que vestia a toga da desembargadora Neuza Maria Alves da Silva, momento de diversão entre a turma. Ela, que nunca ouviu falar de Lélia Gonzalez, acha importante discutir o racismo nas escolas e quando foi perguntada sobre o que deseja ser no futuro, respondeu: “eu gostaria de ser professora de educação física ou juíza”.
Alunas e alunos do 4º ano do Ensino Fundamental I, da Escola Municipal Antônio Cícero, de Águas Lindas de Goiás/GO encerraram as atividades do 2º Circuito de Equidade do TRF1. Acompanhados pela professora e poetisa Maria Cristina Guilherme, as(os) estudantes puderam aprender desde muito jovens a importância de se perceber negro no Brasil como forma de ser visto e respeitado.
Fonte: TRF1





