terça-feira, 16 setembro, 2025
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A Justiça Eleitoral na Amazônia exige mais que discursos: exige justiça para quem a constrói – Os operários do voto

As mudanças climáticas deixaram de ser um alerta distante e se tornaram uma realidade concreta — especialmente para quem vive e trabalha na Amazônia. Esse novo cenário tem afetado diretamente a organização e realização das eleições na região. Enchentes prolongadas, secas extremas, estradas intransitáveis, pontes destruídas. Tudo isso compromete não apenas a logística do processo eleitoral, mas, agrava ainda mais, o direito ao voto de populações ribeirinhas, indígenas e de comunidades isoladas.

Mas há algo que raramente entra no centro desses debates: quem garante que a democracia chegue onde o Estado, muitas vezes, não chega? São os servidores e servidoras da Justiça Eleitoral que enfrentam, na prática, os efeitos mais duros da emergência climática. São eles que carregam urnas em barcos, atravessam matas, enfrentam calor extremo, ausência de estrutura básica e longas distâncias para assegurar que cada cidadã e cidadão tenha voz nas urnas. E não apenas durante o período eleitoral. O trabalho desses profissionais é constante e essencial durante todo o ano. No entanto, essa dedicação segue invisibilizada.

É inaceitável que se discuta a realização de eleições na Amazônia sem colocar no centro do debate a realidade dos trabalhadores que a tornam possível. E isso vale tanto para grandes eventos internacionais, como a COP 30, que acontecerá em novembro, quanto para iniciativas como o Verdemocracia, promovido pelo TRE-PA em parceria com o TSE, que termina amanhã em Belém. É louvável discutir meio ambiente, justiça climática e democracia — mas nada adiantam esses debates se ignorarmos as condições precárias de quem está na linha de frente da Justiça Eleitoral na Amazônia.

O Sindjuf-PA/AP levanta, mais uma vez, uma pauta que não pode mais ser empurrada para depois: a urgente regulamentação do adicional de penosidade para os servidores e servidoras da Justiça Eleitoral. Estamos falando de pessoas que vivem e trabalham em municípios de difícil acesso, onde faltam recursos básicos de saúde, transporte e segurança. Gente que atua em condições muito distantes daquelas encontradas por colegas em grandes centros urbanos.

Não é apenas uma questão de reconhecimento. É uma questão de justiça.

É hora de repensar a Justiça Eleitoral na Amazônia. E isso começa por reconhecer que a democracia só chega até as margens dos rios, até o interior da floresta, até os cantos mais esquecidos do país, porque há servidores públicos que a levam até lá.

O adicional de penosidade é o mínimo diante de tanto esforço. Ignorar isso é naturalizar a desigualdade dentro da própria Justiça.

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