Estudo revela desigualdade estrutural que mantém mulheres negras nas piores posições e nos menores salários.
As desigualdades de gênero e raça continuam moldando, de forma profunda, a participação das mulheres negras no mercado de trabalho brasileiro. Segundo o boletim especial do Dia da Consciência Negra, divulgado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), há um cenário marcado pela sobrecarga, pela baixa remuneração e pela dificuldade de ascensão profissional das mulheres negras no trabalho, resultado direto da soma de discriminações históricas.
Um dos dados mais expressivos mostra a centralidade dessas mulheres na sustentação dos lares brasileiros: 24 milhões de casas, o equivalente a 30% de todos os domicílios do país, são chefiados por mulheres negras. Mesmo assumindo essa responsabilidade, elas encontram o mercado de trabalho mais hostil e desigual.
A taxa de desocupação entre mulheres negras atinge 8%, o dobro da registrada entre homens brancos, evidenciando barreiras de acesso que continuam se repetindo ano após ano. E, quando conseguem emprego, as desigualdades se aprofundam na remuneração.
De acordo com o Dieese, o rendimento médio das mulheres negras é 53% menor que o dos homens brancos, o que significa R$ 30.800 a menos ao final de um ano. Entre trabalhadores com ensino superior, essa distância se amplia ainda mais: a diferença média chega a R$ 58 mil anuais. Ou seja, mesmo quando alcançam maior escolaridade, elas continuam recebendo muito menos.
Raça e gênero
A dupla discriminação, de gênero e de raça, continua determinando oportunidades, trajetórias profissionais e padrões de renda no país.
Para a secretária nacional de Combate ao Racismo da CUT, Maria Júlia Nogueira, enfrentar esse cenário exige políticas públicas amplas, que ataquem desde o acesso à educação e à formalização até medidas de combate à discriminação e promoção da equidade nas empresas.
“Enquanto isso não acontece, milhões de mulheres negras seguem sustentando famílias e movimentando a economia brasileira sob condições muito mais adversas do que outros grupos da população”, afirma a dirigente.
Setores historicamente associados à desigualdade de gênero e raça continuam concentrando grande parte dessas mulheres. Uma em cada seis mulheres negras trabalha no emprego doméstico ou na limpeza de edifícios, ocupações marcadas por baixos salários e pouca valorização.
Enquanto isso, nas posições de liderança, a exclusão fica ainda mais evidente. Entre homens brancos, um em cada 17 trabalhadores ocupa cargos de direção ou gerência. Entre mulheres negras, apenas uma em cada 46 chega a esses postos, revelando um teto de vidro ainda mais rígido quando gênero e cor se combinam.
Salários precários
O Dieese aponta ainda que a precariedade também aparece na base salarial: metade das mulheres negras (49%) ganha no máximo um salário mínimo.
A informalidade, continua a pesquisa, segue como realidade para quase quatro em cada dez: 39% das trabalhadoras negras não têm carteira assinada, o que reduz direitos, estabilidade e proteção social.
Escrito por: Walber Pinto/CUT
Foto/Crédito: CUT/Ahead
Fonte: https://www.cut.org.br/noticias/mulheres-negras-acumulam-jornadas-e-desigualdades-no-mercado-de-trabalho-diz-die-5ee8





