O relatório final do Grupo de Trabalho (GT) da Reforma Administrativa, coordenado pelo deputado Pedro Paulo (PSD-RJ), exibe um tom de celebração democrática. No documento, repete-se a ideia de que a construção do texto resultou de “amplo diálogo” e “participação plural” de diferentes setores da sociedade.
No entanto, a observação de como transcorreram os trabalhos no Grupo e uma leitura atenta do texto revelam uma assimetria gritante: enquanto vozes do mercado, de instituições financeiras e de entidades empresariais foram ouvidas longamente e em diversas ocasiões, as manifestações de representantes dos trabalhadores e de organizações sociais foram restritas, pontuais e, em muitos casos, meramente protocolares.
A participação da Fenajufe (Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Poder Judiciário da União e do MPU) é um exemplo dessa exclusão velada. A coordenadora Arlene Barcellos teve apenas três minutos para sua intervenção durante a audiência pública de 17 de maio de 2025 — tempo evidentemente insuficiente para tratar de forma substantiva das implicações da proposta sobre os direitos e a estrutura do serviço público. Ainda assim, o relatório do GT cita a presença da Federação como prova de “amplo processo de escuta” e “diálogo com a sociedade”.
O artifício retórico serve a um propósito político claro: legitimar uma reforma que nasce sob forte influência de institutos e especialistas vinculados ao pensamento neoliberal e a fundações empresariais como o Movimento Brasil Competitivo, o Instituto República, o Instituto Millenium e a Fundação Lemann — todos com presença destacada nas audiências. Enquanto isso, entidades que representam o funcionalismo público, os servidores e os trabalhadores do Estado brasileiro tiveram um papel meramente figurativo.
O discurso de responsabilidade fiscal e de eficiência foi utilizado para justificar cortes, congelamentos salariais e a transferência de responsabilidades públicas para o setor privado. A proposta, vulnerabilizando a relação dos novos servidores com a administração, retira, de fato, garantias da população.
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