quarta-feira, 12 março, 2025
spot_img

Debate sobre o racismo deve ser permanente e não apenas em novembro

Lideranças ressaltam que este deve ser um assunto para além do dia 20 de novembro. Do contrário, data vira ‘disfarce’ para amenizar o racismo estrutural no país

São Paulo – Símbolo da luta e resistência da população negra no Brasil, o Dia da Consciência Negra, celebrado neste sábado (20), vem ganhando repercussão nos veículos de comunicação e lembrado pela sociedade brasileira. Mas há quem se aproveite da data para “disfarçar” ou “amenizar” o real problema, que é o racismo estrutural sofrido todos os dias pelos negros e negras do país, em diferentes setores. É o que denunciam lideranças que criticam o uso “clichê” daqueles que, apenas em novembro, que se tornou o “mês da consciência negra”, tratam da pauta como prioridade. Mas que deixam o debate sobre o racismo de lado nos outros 11 meses do ano.

O dia da Consciência Negra foi oficializado em lei em 2011 e desde então é feriado em alguns estados e cidades. Ele foi escolhido para homenagear Zumbi, o líder do Quilombo de Palmares, que morreu nesse dia, em 1695.

Contudo, a avaliação do professor de História, Douglas Belchior, cofundador da Uneafro e da Coalizão Negra por Direitos, é que a data virou um clichê justamente por ser tão cobiçada somente em novembro. “Clichê é falar sobre questões raciais só no mês de novembro. Clichê é todos os setores da sociedade se desesperarem em procurar e promover atividades sobre a questão racial, o racismo, a desigualdade racial no mês de novembro, quando esse é um problema diário, cotidiano, que é esfregado na cara na sociedade brasileira todos os dias. A cada 11 minutos um jovem negro de até 29 anos é assassinado no Brasil, todos os meses, de janeiro a janeiro. Mas isso é um problema ou vira um assunto da sociedade só no mês de novembro, na semana da consciência negra, no dia 20”, critica.

O racismo estrutural

Segundo dados do Atlas da Violência 2021, a probabilidade de uma pessoa negra ser assassinada no Brasil é 2,6 vezes maior do que a de uma pessoa não negra. A taxa de homicídios a cada 100 mil habitantes negros no Brasil em 2019 foi de 29,2. Em contrapartida, ao somar a taxa de amarelos, brancos e indígenas o índice é de 11,2. O racismo estrutural no Brasil também é visível e está em todas as outras áreas. Seja no ponto de vista econômico, político e até mesmo na saúde.

“Quando a gente desconsidera o fato de que o Estado diminuir investimentos em saúde ou precarizar políticas de direito à saúde, o SUS, terá impacto muito mais na população negra do que em outras populações, porque ela depende mais do que outros grupos, isso é racismo e acontece o ano inteiro em todos os anos. Desconsiderar que o Brasil é um país de maioria negra e que não tem essa representação replicada nos espaços de poder, isso é racismo. O fato da gente eleger uma maioria de brancos para governar um país que a maioria são negros, isso é racismo”, ressalta Douglas Belchior. 

Presidenta da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), Rozana Barroso, também observa que a desigualdade racial não é diferente com os estudantes negros. De acordo com ela, é nítido qual é a cor dos que enfrentam os maiores obstáculos no acesso ao ensino. 

Enfrentamento

“Nós sempre nos questionamos, mas neste momento ainda mais. Qual é a cor dos estudantes que estão sofrendo com a desnutrição infantil, que estão no sinal vendendo bala e que pararam de estudar pelo não acesso à internet em tempos de pandemia?. Nós somos os mais afetados pelo agravamento da desigualdade social, estamos fora do Enem esse ano, fora da sala de aula. Então por isso que a luta do povo negro e principalmente da juventude negra se dá todos os dias”, destaca. 

O professor de História acrescenta que o “clichê” em torno dos problemas raciais sempre existirá no Brasil se as formas de combatê-los não forem incisivas e diárias. 

“Todos os grandes conflitos e desigualdades sociais no Brasil são antes problemas raciais, não perceber e ignorar isso é racismo. E é um clichê desconsiderar que os problemas que estruturam a sociedade brasileira são antes de qualquer coisa resultado do racismo. Não há nenhum debate sobre justiça, igualdade e democracia que não tenha como pano de fundo o racismo. Porque o Brasil é assentado no racismo histórico. Nós somos um país fruto de 400 anos de escravidão. O racismo é um sistema de dominação sobre o qual se assenta o nosso país. E não considerar esse debate sobre racismo urgente e necessário o ano inteiro, e discuti-lo superficialmente só em novembro, isso é clichê”, conclui Douglas Belchior. 

► Confira a reportagem na íntegra 

Por Larissa Bohrer | Rádio Brasil Atual

Foto/Crédito: Elineudo Meira (FOTOS PÚBLICAS)

Fonte: https://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2021/11/consciencia-negra-novembro-movimento-negro-uso-cliche/

Latest Posts

spot_imgspot_img
spot_imgspot_img
spot_imgspot_img

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

[tdn_block_newsletter_subscribe title_text="CADASTRE SEU EMAIL" description="UEFSQSUyMFJFQ0VCRVIlMjBOT1NTQVMlMjBOT1QlQzMlOERDSUFTJTIwRElBUklBTUVOVEUu" input_placeholder="Informe seu email" tds_newsletter2-image="5" tds_newsletter2-image_bg_color="#c3ecff" tds_newsletter3-input_bar_display="row" tds_newsletter4-image="6" tds_newsletter4-image_bg_color="#fffbcf" tds_newsletter4-btn_bg_color="#f3b700" tds_newsletter4-check_accent="#f3b700" tds_newsletter5-tdicon="tdc-font-fa tdc-font-fa-envelope-o" tds_newsletter5-btn_bg_color="#000000" tds_newsletter5-btn_bg_color_hover="#4db2ec" tds_newsletter5-check_accent="#000000" tds_newsletter6-input_bar_display="row" tds_newsletter6-btn_bg_color="#da1414" tds_newsletter6-check_accent="#da1414" tds_newsletter7-image="7" tds_newsletter7-btn_bg_color="#1c69ad" tds_newsletter7-check_accent="#1c69ad" tds_newsletter7-f_title_font_size="20" tds_newsletter7-f_title_font_line_height="28px" tds_newsletter8-input_bar_display="row" tds_newsletter8-btn_bg_color="#00649e" tds_newsletter8-btn_bg_color_hover="#21709e" tds_newsletter8-check_accent="#00649e" embedded_form_code="JTNDIS0tJTIwQmVnaW4lMjBNYWlsQ2hpbXAlMjBTaWdudXAlMjBGb3JtJTIwLS0lM0UlMEElMEElM0Nmb3JtJTIwYWN0aW9uJTNEJTIyaHR0cHMlM0ElMkYlMkZ0YWdkaXYudXMxNi5saXN0LW1hbmFnZS5jb20lMkZzdWJzY3JpYmUlMkZwb3N0JTNGdSUzRDZlYmQzMWU5NGNjYzVhZGRkYmZhZGFhNTUlMjZhbXAlM0JpZCUzRGVkODQwMzZmNGMlMjIlMjBtZXRob2QlM0QlMjJwb3N0JTIyJTIwaWQlM0QlMjJtYy1lbWJlZGRlZC1zdWJzY3JpYmUtZm9ybSUyMiUyMG5hbWUlM0QlMjJtYy1lbWJlZGRlZC1zdWJzY3JpYmUtZm9ybSUyMiUyMGNsYXNzJTNEJTIydmFsaWRhdGUlMjIlMjB0YXJnZXQlM0QlMjJfYmxhbmslMjIlMjBub3ZhbGlkYXRlJTNFJTNDJTJGZm9ybSUzRSUwQSUwQSUzQyEtLUVuZCUyMG1jX2VtYmVkX3NpZ251cC0tJTNF" descr_space="eyJhbGwiOiIxNSIsImxhbmRzY2FwZSI6IjE1In0=" tds_newsletter="tds_newsletter3" tds_newsletter3-all_border_width="0" btn_text="ENVIAR" tds_newsletter3-btn_bg_color="#ea1717" tds_newsletter3-btn_bg_color_hover="#000000" tds_newsletter3-btn_border_size="0" tdc_css="eyJhbGwiOnsibWFyZ2luLXRvcCI6IjMwIiwibWFyZ2luLWJvdHRvbSI6IjAiLCJiYWNrZ3JvdW5kLWNvbG9yIjoiI2E3ZTBlNSIsImRpc3BsYXkiOiIifSwicG9ydHJhaXQiOnsiZGlzcGxheSI6IiJ9LCJwb3J0cmFpdF9tYXhfd2lkdGgiOjEwMTgsInBvcnRyYWl0X21pbl93aWR0aCI6NzY4fQ==" tds_newsletter3-input_border_size="0" tds_newsletter3-f_title_font_family="445" tds_newsletter3-f_title_font_transform="uppercase" tds_newsletter3-f_descr_font_family="394" tds_newsletter3-f_descr_font_size="eyJhbGwiOiIxMiIsInBvcnRyYWl0IjoiMTEifQ==" tds_newsletter3-f_descr_font_line_height="eyJhbGwiOiIxLjYiLCJwb3J0cmFpdCI6IjEuNCJ9" tds_newsletter3-title_color="#000000" tds_newsletter3-description_color="#000000" tds_newsletter3-f_title_font_weight="600" tds_newsletter3-f_title_font_size="eyJhbGwiOiIyMCIsImxhbmRzY2FwZSI6IjE4IiwicG9ydHJhaXQiOiIxNiJ9" tds_newsletter3-f_input_font_family="394" tds_newsletter3-f_btn_font_family="" tds_newsletter3-f_btn_font_transform="uppercase" tds_newsletter3-f_title_font_line_height="1" title_space="eyJsYW5kc2NhcGUiOiIxMCJ9"]