Nos últimos anos, a presença de pessoas negras no funcionalismo público federal tem crescido, mas ainda está longe de refletir a diversidade da população brasileira. De acordo com dados de 2025 do Painel Estatístico de Pessoal (PEP), atualmente 232.003 servidores federais ativos são pretos ou pardos, o que representa 32,89% do total.
Embora seja um avanço, a desigualdade persiste, sobretudo em cargos de liderança. Considerando o sexo masculino, 131.365 servidores negros estão na ativa, o que equivale a 42% do total de homens no funcionalismo federal. No caso das mulheres, o percentual é menor: 38,4% do total são negras, ou seja, 100.638 servidoras.
Segundo Jessika Moreira, diretora-executiva do Movimento Pessoas à Frente, a evolução da presença de negros em cargos de liderança no Executivo Federal mostra avanços.
Entre 1999 e 2023, a participação de mulheres negras nesses postos cresceu de 0 para 11%, enquanto a de homens negros subiu de 7,2% para 15,2%. Apesar desse crescimento, a desigualdade de representação ainda é evidente, principalmente nos cargos de maior autonomia decisória.
Nos postos de alta liderança, como secretários-executivos e diretores, homens brancos ainda representam 46%, enquanto os negros ocupam apenas 15%, com uma disparidade interna entre homens e mulheres negras.
Cargos comissionados têm discrepância marcante
Quando se observa a ocupação de cargos comissionados de direção e assessoramento, a desigualdade se torna mais evidente. Apenas 9.161 homens negros ocupam essas funções, de um total de 23.228 cargos.
No caso das mulheres, a discrepância é ainda maior: 6.045 negras exercem cargos de direção e assessoramento, em um universo de 16.534 postos.
Para tentar reduzir essas desigualdades, a União editou, em março de 2023, o Decreto 11.443, que reserva um percentual mínimo de 30% de pessoas negras em cargos e funções comissionados.
Novos concursos públicos podem acelerar inclusão
Nesse debate, o Concurso Nacional Unificado (CNU) é considerado um passo para a democratização. Na seleção, as 6.640 vagas distribuídas entre 21 órgãos tiveram ampla participação de candidatos negros. As pessoas negras representaram 18,8% dos inscritos e 24,5% dos aprovados, superando o percentual reservado pelas cotas.
— O quantitativo foi superior ao das cotas, demonstrando que a cota é um piso e não um teto — disse a ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck.
A disparidade também se reflete no recente CNU, em que mulheres negras enfrentam barreiras adicionais de acesso. Jessika destaca que, embora o concurso tenha mostrado um percentual positivo de aprovados negros e indígenas, apenas 37% dos classificados foram mulheres, apesar de elas representarem 56% dos inscritos.
Os dados desagregados por raça e gênero ainda não foram divulgados, mas o cenário reforça a existência de obstáculos estruturais para mulheres negras.
Jessika Moreira, diretora-executiva do Movimento Pessoas à Frente aponta que um dos principais desafios de implementação de polí;cas afirmavas no contexto federal é a tensão social gerada pelo debate em torno da “racialização” da sociedade brasileira.
– É importante destacar que “raça” e “etnia” sempre foram utilizadas como critérios de exclusão, e agora são elementos fundamentais para promover a inclusão e corrigir desigualdades históricas. Outro ponto importante é que muitas vezes se ignora que grupos historicamente marginalizados enfrentam desigualdades de acesso e oportunidades muito maiores em relação a outros grupos. Portanto, as políticas afirmativas são fundamentais para equilibrar esse cenário.
Segundo ela, estudos mostram que essas políticas têm promovido maior diversidadee representatividade em setores antes dominados por grupos privilegiados.
Estudo aponta diferenças salariais de até 33%
A promoção da equidade racial no funcionalismo federal ainda enfrenta desafios estruturais. Um dos principais entraves é a desigualdade salarial entre servidores negros e brancos.
Ainda que os dados salariais por cor/raça não estejam disponíveis no momento, estudos da República.Org de 2024 apontam que mulheres negras ganham, em média, 33% menos do que homens brancos em cargos de gestão.
Foto/Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Por Gustavo Silva/ Extra Online
Fonte: https://extra.globo.com/economia/servidor-publico/coluna/2025/02/negros-sao-3289percent-do-funcionalismo-federal-mas-ocupam-poucos-postos-de-lideranca.ghtml