terça-feira, 29 julho, 2025
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Novo concurso unificado muda perfil de candidatos que vão ingressar no serviço público

Modelo do CNU abre caminho para racionalização das carreiras públicas, apontam especialistas

O Concurso Público Nacional Unificado (CNU), criado pelo Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI), já se tornou uma das principais vias de entrada ao funcionalismo federal. Apesar das limitações, os especialistas concordam que o CNU representa uma mudança de paradigma na seleção de servidores públicos.

Com a possibilidade de mobilidade entre ministérios após a estabilidade, para recomposição da força de trabalho em outros órgãos, o uso da mão de obra no funcionalismo deve ser otimizado, apontam os especialistas ouvidos pelo EXTRA. A mudança é baseada em um sistema desenvolvido pela Universidade de Brasília para dimensionamento da força de trabalho, que visa otimizar alocações considerando o contexto organizacional e características do pessoal. Cargos transversais, como Analista Técnico Administrativo e Analista Técnico de Desenvolvimento Socioeconômico, serão inicialmente lotados no MGI e posteriormente distribuídos a outros órgãos.

Prova mais completa ajuda em fortalecimento da seleção

Na avaliação de Antonio Batista da Silva Oliveira, coordenador do Mestrado em Administração Pública (Profiap) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), a principal mudança está nos critérios avaliativos do concurso. Ele destaca a inclusão de questões discursivas, provas de títulos e maior interdisciplinaridade como avanços que podem alterar o tipo de servidor selecionado.

– Saímos da situação onde a vasta maioria das vagas era selecionada unicamente por meio de provas de marcar, o que considero uma pobreza avaliativa imensa. Com o CNU, ampliamos o uso de outros mecanismos avaliativos certamente mais eficazes – , afirma.

Em nota, o MGI avaliou que a primeira edição do CNU trouxe importantes aprendizados que influenciaram os ajustes para a segunda edição. Entre as novidades, está a unificação do edital para todos os blocos temáticos, o que tornou as regras mais claras, e a implementação de um código de barras nos cartões-resposta, garantindo a anonimização dos candidatos durante a correção.

Também foram aprimoradas as ações afirmativas, com destaque para a adoção de um sistema de paridade de gênero na convocação para a prova discursiva, inspirado em modelos anteriores, que assegura que o número de mulheres classificadas seja, no mínimo, igual ao de homens, desde que atendam a nota mínima exigida.

Batista vê na estrutura de blocos temáticos uma das inovações mais promissoras do modelo.

– Ela pode ser, inclusive, a semente para se racionalizar as carreiras no futuro. Em lugar de centenas de carreiras atuais (muitíssimas delas, duplicadas), pode-se ter uma dezena de carreiras ou até menos. É algo que Espanha, Estados Unidos, Portugal e outros países já conseguiram e o Brasil, ainda não.

Preparo para ingresso no funcionalismo também foi impactado

Do ponto de vista pedagógico, a mudança no formato das provas exigiu uma adaptação dos cursos preparatórios. Gabriela Marques, professora de Língua Portuguesa e Redação do Degrau Cultural, explica que o conteúdo exigido se tornou mais amplo e interdisciplinar, o que forçou uma reestruturação metodológica.

– A ampliação do escopo de conhecimentos exigidos é filtrada sempre pela abordagem específica da banca, que prioriza questões interdisciplinares, contextualizadas e de alta densidade interpretativa. Por isso, a adaptação não é apenas de conteúdo, mas de metodologia – , diz.

Gabriela também aponta uma mudança no perfil dos alunos. Segundo ela, a escolha do bloco passou a ser orientada menos por estratégias de menor concorrência e mais pela afinidade com o campo de atuação.

– No primeiro CNU, por se tratar de uma proposta inédita, houve um volume maior de iniciantes. Já nesta segunda edição, observamos um amadurecimento: o público se consolidou em concurseiros que já estão em processo contínuo de preparação. Escolher um bloco coerente com os interesses de carreira aumenta a motivação durante a preparação e a permanência no serviço público.

Eduardo Cambuy, professor do Gran Concursos, também percebe diferenças no perfil dos candidatos.

– O CNU agora tem um perfil de público com menor aderência em termos financeiros. É um perfil que busca carreiras de até 10 mil. No outro você tinha carreiras de 20, 25 mil – , compara.

Os desafios também não são pequenos. Cambuy explica que carreiras novas e transversais, como as dos blocos 5, 6 e 7, exigem a produção de material inédito pelos cursos.

– É um pouco desesperador, porque são conteúdos inéditos, boa parte deles. Tudo tem que ser gravado desde agora: vídeo, PDF. Muitas vezes não tem disponível porque é uma carreira nova – , afirma.

Democratização de acesso

Um ponto de consenso entre os especialistas é o impacto do CNU na ampliação do alcance geográfico e social do concurso público. Gabriela afirma que houve aumento expressivo na procura por cursos online por candidatos de regiões antes pouco representadas. Cambuy reforça:

– Agora você já tem essa possibilidade, então é claro que você tem aí um aumento de demanda de um público que estava esquecido, que estava sem ter acesso a essas informações.

Apesar de estimar que a representatividade de regiões mais afastadas ainda seja proporcionalmente baixa — cerca de 10% — ele ressalta que isso já representa aproximadamente 200 mil pessoas.

O MGI também destacou o impacto do CNU na descentralização geográfica dos aprovados.

“Tivemos 37% dos candidatos vindos de cidades do interior e 14% de municípios com menos de 100 mil habitantes. A realização das provas em 228 cidades e a proximidade dos locais de prova às residências contribuíram para essa descentralização, com a expectativa de ampliar ainda mais a representatividade regional na próxima edição”.

Foto/Crédito: Arquivo CNJ

Fonte: https://extra.globo.com/economia/servidor-publico/coluna/2025/07/novo-concurso-unificado-muda-perfil-de-candidatos-que-vao-ingressar-no-servico-publico.ghtml

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