Levantamento do Banco Mundial mostra que só 55% encontram realização ao trabalhar no serviço público
Os servidores públicos brasileiros têm um baixo nível de satisfação no trabalho quando comparado com 18 países, segundo a Pesquisa Global de Servidores Públicos: Aproveitando os insights dos servidores públicos para uma administração pública mais eficaz, do Banco Mundial.
No Brasil, 55% dos trabalhadores ouvidos disseram estar satisfeitos com o trabalho. O percentual é o menor dentre os países pesquisados e é o único abaixo dos 60%. A média dentre os países avaliados foi de 70%. Segundo o levantamento, os funcionários públicos da Romênia (95%), Colômbia (93%) e Nigéria (89%) são os mais satisfeitos. A Croácia e Estados Unidos (ambos empatados com 66%) aparecem em penúltimo lugar, porém, mais satisfeitos que o Brasil.
Os co-fundadores da pesquisa, Christian Schuster e Daniel Rogger, explicaram ao Valor, por meio de assessoria de imprensa, que os resultados demonstram que a qualidade das práticas de gestão e as atitudes dos funcionários variam acentuadamente entre países e dentro dos países nas organizações governamentais. Eles acrescentam que as informações podem “ajudar os governos a identificar quais práticas de gestão precisam ser melhoradas em todo o governo e quais práticas de gestão precisam ser melhoradas em quais organizações”.
O Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que tem feito esforços no sentido de melhorar a qualidade do serviço público, o que inclui, entre outras ações, a valorização dos servidores públicos federais, a melhoria e reestruturação das carreiras, e a realizações de concursos. O ministério informou também que um outro relatório, feito pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), com o título “Diagnóstico Institucional do Serviço Público na América Latina 2024” mostra um cenário melhor. “Nesse levantamento, o índice de satisfação atingiu 65 pontos, melhorando o desempenho em relação ao último estudo de 2014, no qual o Brasil alcançou 55 pontos”, destacou o ministério.
Mas, para o secretário-geral da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef), Sérgio Ronaldo da Silva, o resultado da pesquisa do Banco Mundial só reforça a baixa estima do servidor público diante das condições precárias de trabalho. Ele citou como exemplo o fato de um trabalhador exercer as atribuições de dois ou três devido à reposição insuficiente de servidores que se aposentaram ao longo dos anos.
Segundo ele, considerando que a pesquisa do Banco Mundial abrange dados de 2017, a situação hoje pode ser até pior. “Nos últimos seis ou sete anos, os servidores foram massacrados e assediados. O diálogo com o governo foi retomado, mas ainda não há sinalização de melhora da satisfação”, destacou.
A pesquisa do Banco Mundial foi conduzida por pesquisadores do University College London e da University of Nottingham em colaboração com o Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão do Brasil e a Escola Nacional de Administração Pública e realizada durante a Presidência Temer, entre 5 de julho e 23 de setembro de 2017. A pesquisa online compreendeu servidores públicos de 14 instituições do governo federal sediadas em Brasília – totalizando 26.616 servidores públicos.
Para Schuster e Rogger, o Brasil registrou menor taxa de resposta entre todas as pesquisas nacionais, e, portanto, os resultados devem ser interpretados com cautela. Isso porque, embora a maioria dos resultados de pesquisas de servidores públicos seja relativamente estáveis ao longo do tempo, não é possível ter certeza que este seja o caso brasileiro.
Diálogo com o governo foi retomado, mas ainda sem melhora da satisfação” — Sérgio Ronaldo da Silva
“Recomendamos, em particular, tirar quaisquer conclusões apenas de grandes diferenças percentuais entre o Brasil e outros países, em vez de menores, e de grandes diferenças dentro dos itens da pesquisa no Brasil”, destacaram dando como a constatação de que o Brasil tem um nível relativamente alto de satisfação com o salário em comparação internacional, mas um baixo nível de satisfação no trabalho.
Apesar da pesquisa considerar dados do Brasil de 2017 e diferentes períodos dos outros países, Schuster e Rogger reforçaram que a conclusão não fica comprometida pois os dados têm se mostrado “relativamente estáveis ao longo do tempo quando se considera o governo como um todo” em países que realizam pesquisas governamentais de servidores públicos anuais ou bianuais – como Estados Unidos, Reino Unido, Austrália ou Colômbia.
Eles mencionaram que na Pesquisa Federal de Opinião dos Servidores Públicos dos Estados Unidos, por exemplo, o índice de engajamento dos funcionários foi de 72 em 2020, 71 em 2021, 71 em 2022 e 72 em 2023. Na Pesquisa Nacional de Servidores Públicos do Chile, a parcela de servidores públicos satisfeitos com seus empregos passou de 84% em 2019 para 83% em 2023.
“Isso torna provável que a maioria das comparações entre países seja plausível mesmo quando os anos da pesquisa diferem, embora não possamos descartar que essas comparações produziriam resultados diferentes se a pesquisa de um determinado país estivesse disponível para um ano mais recente”, explicaram os co-fundadores.
Segundo eles, as pesquisas são feitas nos países quando surge uma oportunidade relevante. “A demanda interna de um país para realizar pesquisas varia ao longo do tempo. Como tal, temos pesquisas de diferentes anos. Esta é uma das várias maneiras pelas quais as pesquisas entre países diferem”, informaram.
Fonte: Valor Econômico
Foto/Crédito: Marcelo Casal Jr/Ag.Brasil (FOTOS PÚBLICAS)
Extraído de: https://wagner.adv.br/pesquisa-aponta-insatisfacao-de-servidores/