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Estudo inédito encomendado pela CUT mostra que mais da metade dos autônomos que já foram celetistas desejam retornar ao regime formal, mas enfrentam precarização e falta de oportunidades.
Um retrato inédito do mercado de trabalho brasileiro, divulgado nesta segunda-feira, desfaz o mito de que o empreendedorismo e o trabalho autônomo são sempre uma escolha voluntária. A pesquisa “O Trabalho no Brasil”, realizada pelo instituto Vox Populi a pedido da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e outras centrais sindicais, aponta que a maioria dos trabalhadores que hoje atuam por conta própria preferiria ter a carteira assinada e os direitos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
O dado mais emblemático do estudo, que ouviu 3.850 pessoas em todos os estados entre maio e junho de 2025, é que 56% dos autônomos do setor privado que já tiveram um emprego formal afirmam que, com certeza, voltariam a ser CLT. Esse desejo é motivado principalmente pela busca por mais direitos e estabilidade.
Empreendedorismo por necessidade, não por opção
A pesquisa introduz um conceito crucial para entender a realidade: o “empreendedorismo de necessidade”. Diferente do empreendedorismo de oportunidade – que surge da identificação de um nicho de mercado e busca inovação –, este é impulsionado pela pura necessidade de sobreviver.
Os entrevistados relatam que foram empurrados para a informalidade devido à precarização do trabalho formal: salários baixos (citado por 44,5% como principal obstáculo a um bom emprego), exigências excessivas (38,7%) e jornadas extensas oferecidas pelos empregadores.
O perfil desses “empreendedores por necessidade” ilustra a realidade:
- Ambulante ou sacoleiro
- Trabalhador da construção civil (pedreiro, pintor)
- Cabeleireiro ou barbeiro
- Comerciante de pequeno porte
- Cozinheiro (venda de marmitas, doces)
Essas atividades são caracterizadas pela informalidade, baixos investimentos iniciais e alta vulnerabilidade econômica.
A valorização do trabalho e a dura realidade
O estudo mostra uma contradição na percepção dos trabalhadores. Por um lado, o trabalho é altamente valorizado:
- 7 em cada 10 brasileiros o consideram fundamental em suas vidas.
- 9 em cada 10 o veem como espaço de aprendizado e valorização pessoal.
Por outro, a realidade cotidiana é marcada por desafios:
- 55% relatam ansiedade devido à rotina de trabalho.
- 58% afirmam que o trabalho consome tempo excessivo.
- 56,5% avaliam que o mercado oferece poucas oportunidades.
A “saudade da CLT” e a busca por estabilidade
A estabilidade financeira aparece como um sonho distante para muitos. Entre os autônomos e empreendedores insatisfeitos, a falta de estabilidade financeira (64,7%) é o maior problema, seguida da falta de benefícios (10%).
Quando questionados sobre o que define um “bom emprego”, as respostas mais frequentes foram: salário digno, estabilidade de renda e flexibilidade de horário.
A vontade de retornar ao regime formal é forte em vários grupos:
- 59,1% dos trabalhadores do setor privado sem carteira (a maioria MEIs e PJs) afirmam que com certeza voltariam a ter a carteira assinada.
- Entre as mulheres em atividades de cuidado não remunerado que desejam retornar ao mercado, 52,2% preferem fazê-lo com carteira assinada.
Duas faces da mesma moeda: autônomos vs. empreendedores
A pesquisa faz uma distinção interessante entre quem se declara autônomo e quem se vê como empreendedor. Enquanto 55,3% dos autônomos voltariam ou consideram voltar à CLT, entre os que se declaram empreendedores, 58,9% afirmam que não voltariam.
Isso reforça a tese de que uma parcela significativa dos que se declaram “empreendedores” são, na verdade, trabalhadores autônomos que internalizaram um discurso que minimiza a importância dos direitos trabalhistas. A cada seis pessoas autônomas, apenas uma se considera empreendedora.
Conclusão: Um grito por direitos e segurança
Para o presidente nacional da CUT, Sérgio Nobre, a pesquisa é um retrato claro de que os trabalhadores são forçados à informalidade pela precarização do trabalho formal. “Autodeclarados empreendedores e autônomos são empurrados para esta modalidade pela precarização”, afirmou.
Os números da pesquisa Vox Populi-CUT deixam claro: o desejo por direitos, estabilidade e segurança financeira ainda é o principal anseio da classe trabalhadora brasileira. O “empreendedorismo de necessidade” não é uma opção livre, mas uma estratégia de sobrevivência em um mercado de trabalho que oferece poucas oportunidades dignas.
Foto/Crédito: Reprodução Web
Fonte: https://www.diap.org.br/index.php/noticias/noticias/92555-pesquisa-revela-que-trabalhadores-autonomos-preferem-voltar-a-clt-mas-sao-empurrados-para-a-informalidade





