Não há hipótese de questionar que a contaminação de fauna, flora e alimentos compromete qualidade de vida e subsistência de todas as populações – mas principalmente daquelas que vivem da pesca e da caça.
O vazamento de óleos mecânicos nos rios amazônicos, frequentemente invisível a olho nu e negligenciado em fiscalizações, representa uma ameaça crescente e alarmante ao meio ambiente e à saúde pública, especialmente nas regiões habitadas por comunidades ribeirinhas. O impacto da contaminação vai muito além da superfície da água: ele compromete toda a cadeia ecológica e afeta diretamente populações que têm no rio sua principal fonte de água e alimento.
A ingestão de peixes contaminados, o uso de água poluída para higiene pessoal e consumo e a exposição direta às substâncias químicas liberadas por embarcações comprometem seriamente a saúde das famílias que vivem nas margens dos rios. “O escapamento de óleos representa riscos às pessoas que vivem em regiões ribeirinhas. Eles formam uma película na superfície da água e dificultam a troca de oxigênio, afetando peixes e outros organismos aquáticos. A partir da ingestão de alimentos ou água contaminada, a comunidade pode adoecer”, alerta Luiz Felipe Pereira, engenheiro químico, professor e coordenador dos cursos de Engenharias da Universidade da Amazônia (UNAMA).
De acordo com o especialista, os escapes de óleo ocorrem por diversos fatores, entre eles a falta de manutenção preventiva das embarcações, falhas em sistemas de vedação, rompimentos de mangueiras, envelhecimento de componentes ou até acidentes operacionais. Trata-se de um problema técnico, mas também de negligência com consequências socioambientais sérias.
Mesmo em pequenas quantidades, o óleo forma uma película na superfície da água que impede a troca de oxigênio com o meio ambiente. O resultado é a asfixia de peixes, a morte de organismos microscópicos essenciais à cadeia alimentar e a degradação de áreas de reprodução de espécies aquáticas. O desequilíbrio ecológico tem efeito dominó. A morte de uma população de peixes impacta diretamente os pássaros que deles se alimentam, os ribeirinhos que vivem da pesca e toda a cadeia natural que gira em torno do rio.
A vegetação aquática também sofre com a poluição. Plantas absorvem os compostos tóxicos e tornam-se nocivas à fauna e aos humanos. Algumas áreas de preservação sofrem danos irreparáveis após sucessivos episódios de vazamentos.
Para comunidades tradicionais que têm no rio sua principal fonte de abastecimento, o impacto é direto. Segundo o professor da UNAMA, além da contaminação de peixes e da água, o contato prolongado com óleo mecânico pode causar sintomas como náuseas, dores de cabeça, reações alérgicas, distúrbios hormonais e intoxicação crônica. Não é um efeito pontual, mas sim uma exposição contínua que compromete a saúde de gerações.
O cenário é especialmente crítico na região amazônica, onde o transporte fluvial é predominante e embarcações movidas a motores são parte indispensável da rotina econômica e social. O risco é alto porque muitos desses motores operam sem fiscalização e com manutenção precária.
A responsabilidade pelo controle e prevenção desses vazamentos recai, em grande parte, sobre as transportadoras e empresas que operam embarcações nos rios da região. Para mitigar o problema, Pereira defende medidas urgentes e eficazes.
“É muito importante que as empresas tenham consciência de utilizar materiais de qualidade para a vedação das embarcações, além de treinar equipes para o manuseio seguro de óleos e combustíveis e seguir protocolos ambientais rigorosos. A instalação de sistemas de contenção e monitoramento também é essencial para detectar e conter vazamentos rapidamente”, enfatiza Luiz Felipe.
O alerta se soma a uma série de preocupações levantadas por ambientalistas e defensores dos direitos das populações tradicionais, que vêm denunciando os danos provocados por atividades extrativistas e de transporte não regulamentadas nos rios da Amazônia. Proteger os rios e suas populações é urgente.
Foto/Crédito: Sindipetro PR e SC
Por Gabriella Florenzano
Fonte: https://uruatapera.com/vazamento-de-oleo-nos-rios-ameaca-saude-ribeirinha-e-agrava-crise-ambiental/