sexta-feira, 3 outubro, 2025
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Os servidores tem razão em se preocupar com a Reforma Administrativa?

Análise das preocupações e críticas dos servidores a partir do relatório final do GT da Reforma Administrativa

Por Jean P. Ruzzarin

Introdução

A reforma administrativa voltou ao centro da agenda política nacional com a divulgação do Relatório Final do Grupo de Trabalho da Câmara dos Deputados, reacendendo no funcionalismo público temores que não se dissiparam desde a tramitação da PEC 32/2020. Embora o GT tenha buscado uma roupagem de modernização e eficiência, a percepção predominante entre servidores e entidades representativas é de que o processo se desenvolveu com escasso diálogo e com risco de reproduzir – agora em capítulos fragmentados – os mesmos efeitos estruturais de enfraquecimento do Estado. Para compreender o alcance dessas preocupações, é preciso ouvi-las em seu próprio registro, como se expressaram em assembleias, congressos e encontros sindicais desde a instalação do GT: vozes que apontam para a corrosão gradual de garantias históricas, para a precarização institucionalizada das carreiras e para o deslocamento de políticas públicas essenciais para arranjos privados.

Do ponto de vista da advocacia em defesa dos servidores, há dois movimentos que se impõem antes de qualquer análise estritamente jurídica. O primeiro é o de mapear os interesses, expectativas e receios da categoria, não apenas como reivindicações corporativas, mas como parte de uma disputa sobre o modelo de Estado que se pretende preservar ou alterar. O segundo é o de confrontar essas pautas com o relatório final do GT, para verificar se houve acolhimento, ignorância ou distorção de tais preocupações. Só a partir dessa leitura político-institucional, que revela as conotações mais profundas das propostas, será possível dar sentido jurídico consistente às normas projetadas. É esse o objetivo preliminar deste artigo: analisar se as críticas dos servidores têm fundamento quando cotejadas com o desenho da reforma exposto no relatório final.

O relatório final do Grupo de Trabalho da Reforma Administrativa estrutura-se em torno de quatro grandes eixos: Estratégia, Governança e Gestão; Transformação Digital; Profissionalização do Serviço Público; e Extinção de Privilégios. Cada eixo concentra um conjunto de medidas – ao todo, cerca de 70 propostas legislativas e constitucionais – que pretendem redesenhar a administração pública brasileira. O discurso oficial do GT é de que se trata de uma reforma “de Estado”, de longo prazo, destinada a tornar o serviço público mais eficiente, transparente e voltado ao cidadão, substituindo a lógica burocrática por uma lógica de resultados.

No Eixo 1, propõe-se a adoção obrigatória de planejamento estratégico para todos os entes da Federação, acordos de resultados e bônus por desempenho, além de maior poder aos tribunais de contas na fiscalização da gestão. O Eixo 2 foca na digitalização ampla, criação de plataformas e serviços eletrônicos. O Eixo 3 trata da reorganização de carreiras, estágio probatório remodelado, ampliação de níveis de progressão e instituição de uma tabela remuneratória unificada, além do concurso nacional unificado. Já o Eixo 4 se concentra no enfrentamento a privilégios, buscando revisar desigualdades internas ao serviço público e propor limites a benefícios considerados excessivos.

Feita essa contextualização, o método adotado neste artigo será indicar as críticas e preocupações mais conhecidas dos servidores públicos e, em seguida, verificar se o relatório final do GT as contempla ou não. Trata-se, portanto, de um exercício comparativo: primeiro, expor o que os servidores apontam como riscos; depois, confrontar essas percepções com o conteúdo efetivamente registrado no relatório, de modo a iluminar convergências, omissões e tensões. Esse passo é indispensável para compreender o sentido político-institucional da proposta antes de se avançar, em artigos posteriores, para uma análise estritamente jurídica.

Modernização como demolição do Estado social

Entre dirigentes sindicais, ouve-se com frequência que a chamada “modernização” da administração pública nada mais é do que uma forma de reduzir o Estado à condição de mero financiador de serviços, deixando sua execução a cargo de arranjos privados e vínculos precários. Essa crítica é contundente: a reforma seria, na prática, uma demolição do Estado social, fragilizando carreiras estáveis, desestruturando a prestação de serviços essenciais e empurrando saúde, previdência e educação para a lógica mercantil. O diagnóstico sindical não se limita a receios abstratos, mas parte da constatação de que medidas já adotadas – como a multiplicação de contratos temporários e a expansão das OSs – apontam para a substituição progressiva do servidor de carreira por vínculos frágeis e mais vulneráveis a pressões políticas e econômicas.

Ao cotejar essas preocupações com o relatório do GT, percebe-se que a retórica da eficiência e da flexibilidade coincide com esse movimento. No Eixo 3 – Profissionalização, propõe-se a investidura a termo, por concurso, com prazo de até dez anos, e são detalhadas novas regras para temporários e terceirizados, reconhecendo inclusive a expansão acelerada desses vínculos. Além disso, em trechos do eixo de governança, o relatório enfatiza revisões periódicas de gastos e a realocação de recursos como prioridade, o que reforça a ideia de que a lógica fiscal se sobrepõe à manutenção de estruturas públicas sólidas. Assim, embora sob outra linguagem, o relatório confirma pontos centrais da crítica sindical: a reforma não fortalece o Estado, mas sinaliza sua retração e reconfiguração em moldes mais frágeis e privatizados.

Narrativa pública esconde a realidade do funcionalismo

Uma crítica recorrente dos dirigentes sindicais é de que a narrativa pública em defesa da reforma administrativa se ancora em slogans que não refletem a realidade do funcionalismo. Expressões como “fim de privilégios”, “Estado caro” e “supersalários” são usadas como justificativa para medidas estruturais, quando, na prática, referem-se a situações excepcionais — férias de 60 dias, remunerações acima do teto constitucional ou adicionais acumulados por pequenas parcelas da elite do funcionalismo. A grande maioria dos servidores, lembram as entidades, recebe salários médios que não se aproximam desses estereótipos, exercendo funções essenciais em condições muitas vezes de sobrecarga e falta de estrutura. A crítica é contundente: o discurso político seleciona casos extremos para legitimar mudanças que atingirão indistintamente todo o corpo de servidores, contribuindo para estigmatizar a função pública perante a sociedade.

O relatório do GT ecoa essa retórica ao tratar do Eixo 4 – Extinção de Privilégios, listando explicitamente benefícios como férias de 60 dias, adicionais de tempo de serviço, verbas indenizatórias disfarçadas e pecúnia de férias como exemplos de distorções a serem combatidas. Também utiliza a noção de “supersalários” para apontar a “grande disparidade de determinados benefícios”, que gerariam impacto fiscal e dano à imagem do serviço público. Ao mesmo tempo, o texto associa a estabilidade a uma proteção “excessiva”, reforçando a necessidade de vinculá-la a avaliações de desempenho regulares. Assim, ainda que em tom técnico, o relatório reforça a visão de que o problema está no próprio regime atual, endossando a narrativa pública que generaliza casos excepcionais e abre espaço para reformas com alcance muito mais amplo do que o discurso sugere.

Captura do orçamento pela dívida pública

Muitos servidores observam que a política fiscal no Brasil vem sendo orientada por uma lógica que privilegia o pagamento da dívida pública em detrimento do investimento em políticas sociais. Para eles, a recorrente alegação de que “faltam recursos” serve mais como argumento político do que como retrato fiel da realidade orçamentária, já que convivemos com reservas internacionais elevadas e vultosos mecanismos financeiros. A consequência prática dessa opção, segundo apontam, é a compressão do orçamento social, especialmente em pessoal, saúde, educação e assistência, o que enfraquece a capacidade do Estado de garantir direitos de forma contínua e universal.

O relatório do GT, ainda que não utilize essa linguagem, confirma a centralidade da disciplina fiscal como parâmetro da reforma. No Eixo 1 – Estratégia, Governança e Gestão, a “revisão de gastos” é tratada como condição essencial para estabilizar as contas, citando déficits recorrentes desde 2015 e o crescimento das despesas obrigatórias. Além disso, destaca os riscos fiscais decorrentes de variações de inflação e juros, relacionando-os ao peso das despesas previdenciárias e de pessoal, hoje estimadas em R$ 438 bilhões. A mesma área propõe mecanismos de limitação de despesas de órgãos autônomos e de racionalização administrativa municipal, inspirados no novo arcabouço fiscal. Assim, embora descrito em termos técnicos de governança e eficiência, o relatório reafirma que a prioridade macroeconômica é o controle de gastos, em detrimento da expansão de políticas públicas — validando, sob outra ótica, a preocupação de que o orçamento social esteja subordinado à lógica financeira.

Mercantilização dos serviços

Uma crítica comum entre os servidores é que a reforma administrativa, sob o discurso da eficiência, esconde um objetivo implícito de mercantilização dos serviços públicos. O receio é que atividades essenciais, como saúde e educação, passem a ser prestadas por organizações sociais, contratos temporários ou terceirizações, transformando direitos sociais em mercadorias sujeitas a metas de produtividade e lógicas de custo. Essa percepção se confirma ao examinar o relatório do GT: no Eixo 3 – Profissionalização, a Área XI trata das novas regras de contratação temporária, destacando que entre 2017 e 2023 caiu o número de servidores efetivos e cresceu fortemente a participação de vínculos temporários, o que implica substituição gradual do corpo estável por formas mais frágeis e flexíveis de contratação. Além disso, a proposta de incentivo à transversalidade de carreiras prevê a mobilidade compulsória de servidores entre órgãos e funções , reforçando a tendência de flexibilização e esvaziamento de vínculos permanentes. Nesse sentido, ainda que apresentada como modernização, a diretriz do relatório coincide com o temor de que a reforma pavimente a substituição de estruturas públicas duradouras por arranjos contratuais de curto prazo, típicos da lógica de mercado.

Flexibilização do vínculo público

Neste mesma linha, uma das denúncias dos servidores é que a reforma administrativa acabe por flexibilizar o vínculo público, abrindo espaço para a ampliação de contratações fora do regime estatutário e, com isso, esvaziando gradualmente as carreiras típicas de Estado. O temor é de que, mantido o concurso como mera exceção, os atuais servidores se tornem integrantes de “carreiras em extinção”, sem novos ingressos, o que comprometeria a paridade, a continuidade institucional e abriria maior espaço para práticas de apadrinhamento político. Essa percepção se conecta diretamente com a leitura crítica de que a reforma cria um “Estado paralelo”, sustentado por vínculos frágeis e temporários, menos protegidos e mais vulneráveis a interferências.

O relatório do GT confirma esse movimento ao propor, no Eixo IX – Nova Carreira do Serviço Público, a reorganização das carreiras em blocos transversais, com maior mobilidade e progressão vinculada a desempenho. Além disso, introduz a ideia de “vínculo estatutário por tempo determinado”, justificando que certas demandas seriam transitórias e poderiam ser atendidas com contratações temporárias, sem os custos e garantias associados ao servidor efetivo. Essa concepção amplia as hipóteses de vínculos precários e sinaliza uma diminuição do concurso público como regra de ingresso, reforçando a preocupação dos servidores de que a estabilidade e a permanência das carreiras estejam sendo diluídas em nome de maior “flexibilidade” e de ajustes fiscais de curto prazo.

Estabilidade como garantia do interesse público

A estabilidade dos servidores públicos é frequentemente descrita por eles como uma barreira protetiva essencial contra pressões políticas e interesses particulares, e não como um privilégio. Recordam que, em momentos críticos, como durante a pandemia ou em investigações de corrupção, a atuação de servidores estáveis foi decisiva para a denúncia de irregularidades e para a preservação do interesse público. Nesse sentido, a estabilidade aparece como um mecanismo que assegura continuidade administrativa, autonomia técnica e coragem institucional, justamente por proteger o servidor de demissões arbitrárias ou de perseguições derivadas de conjunturas políticas. É por isso que muitos afirmam que fragilizar a estabilidade equivale a fragilizar a capacidade do Estado de cumprir seu papel republicano.

O relatório do GT, por outro lado, trata a estabilidade sob uma ótica condicionada à eficiência. Ele afirma que o instituto da avaliação de desempenho deve servir para “conciliar a garantia da estabilidade com a busca pela eficiência administrativa”, atribuindo-lhe caráter de contrapartida à permanência. Nos trechos dedicados ao estágio probatório, a crítica é explícita: o diagnóstico aponta que ele seria “inoperante”, funcionando apenas como um lapso temporal para a confirmação automática da estabilidade. A proposta apresentada busca endurecer regras, padronizar instrumentos e associar a aquisição da estabilidade ao cumprimento de metas de desempenho definidas por portarias e decretos recentes. A retórica de meritocracia e accountability, portanto, sugere que a estabilidade passará a depender mais de indicadores de produtividade do que de sua função protetiva de impessoalidade e continuidade. Dessa forma, articula-se um nexo direto com os pontos anteriores: ao lado da flexibilização dos vínculos e da expansão de contratações temporárias, a estabilidade passa a ser reformulada como um privilégio condicional e não como garantia institucional.

PGD, metas e adoecimento organizacional

O relatório do GT confirma a centralidade do Programa de Gestão e Desempenho (PGD) como instrumento estruturante da reforma. Ele prevê que atividades da administração direta e indireta, em todas as esferas, sejam avaliadas em função da efetividade e da qualidade das entregas, com base em indicadores definidos para cada órgão. Essa lógica é complementada pelo Ciclo de Gestão de Pessoas, que apresenta a avaliação de desempenho e a meritocracia como mecanismos para superar práticas patrimonialistas e clientelistas, vinculando a própria estabilidade ao cumprimento de metas e resultados. O relatório, portanto, legitima o modelo de gestão orientado por metas e produtividade, situando-o como política central da profissionalização do serviço público.

Essa ênfase, contudo, é identificada por muitos servidores como uma denúncia já conhecida na prática cotidiana: o PGD seria o laboratório vivo da reforma. Dirigentes e entidades relatam que a lógica de transformar o trabalho em números, fixando metas diárias e responsabilizando individualmente os servidores por falhas muitas vezes sistêmicas, tem resultado em assédio institucional e adoecimento organizacional. O argumento baseado na realidade é que esse modelo gera sobrecarga, compromete a qualidade do atendimento e inverte a lógica republicana do serviço público, deslocando-a para um regime de pressão individualizada e competição permanente. O que o relatório descreve como avanço cultural e de eficiência é visto, no funcionalismo organizado, como a confirmação de uma ameaça já instalada no cotidiano de trabalho.

Teletrabalho sem contrapartida e redução remuneratória indireta

O teletrabalho é frequentemente criticado por implicar uma transferência silenciosa de custos ao trabalhador — energia, internet, mobiliário e equipamentos — sem qualquer mecanismo de compensação, o que se traduz em redução remuneratória indireta. Além disso, o regime remoto tende a gerar volume invisível de trabalho, fora da jornada regular, sem pagamento de hora extra, acentuando a sobrecarga. O relatório do GT, entretanto, enquadra o chamado Ambiente de Trabalho Moderno como eixo de inovação e aposta na digitalização e no trabalho remoto como instrumentos de economia e flexibilidade, sem qualquer referência a compensações financeiras ou proteção contra abusos, reforçando a percepção de que a “modernização” pode significar, na prática, perda de direitos e precarização velada.

Transversalidade de carreiras: entre a cooperação e o risco do “faz-tudo”

O relatório final do GT dá destaque à transversalidade como diretriz de reorganização do serviço público, propondo a redução do número de carreiras e concursos mais abrangentes, que permitam mobilidade e deslocamentos de servidores conforme a demanda institucional. Em determinadas áreas muito especializadas, essa diretriz pode de fato ter sentido, na medida em que promove interação entre campos técnicos próximos e estimula soluções integradas para problemas complexos. A crítica dos servidores, contudo, é que, quando aplicada de modo indiscriminado às carreiras de suporte, a transversalidade se converte em polivalência forçada, fragilizando a especialização, diluindo identidades funcionais e aproximando o servidor da condição de “faz-tudo” sem trajetória profissional clara.

Na prática, o risco está em confundir cooperação técnica com desestruturação de percursos profissionais. Ao invés de valorizar a experiência acumulada e a formação específica, a proposta pode resultar em deslocamentos sucessivos que comprometem tanto a qualidade das políticas públicas quanto a motivação dos servidores. Assim, se a transversalidade pode ser legítima como política de integração em setores estratégicos, sua aplicação genérica às carreiras de base reforça a crítica de precarização: carreiras sem identidade, servidores sem horizonte e serviços públicos prestados por quadros versáteis, porém desprovidos da profundidade necessária.

Conclusão

A análise das críticas e preocupações levantadas pelos servidores, cotejada com o conteúdo do relatório final do GT da Reforma Administrativa, revela um quadro consistente: os receios não se baseiam em conjecturas ou exageros retóricos, mas encontram respaldo direto em propostas e diagnósticos que o próprio documento oficial consagra. Da “modernização” descrita como racionalização, mas que se traduz em vínculos temporários e carreiras transversais, até a centralidade do PGD e do teletrabalho sem contrapartidas, o que se observa é a institucionalização de práticas já denunciadas no cotidiano dos órgãos públicos. A retórica da eficiência encobre um movimento de flexibilização estrutural que, longe de fortalecer o Estado, tende a reduzir sua capacidade de garantir políticas universais.

Esse cotejo reforça a importância de compreender as reformas administrativas não apenas pela ótica normativa, mas também em sua dimensão política e institucional. Dirigentes sindicais apontam com insistência a lógica fiscalista que subordina o orçamento social à dívida, a mercantilização de serviços essenciais e a estigmatização dos servidores como “privilegiados” — narrativas que se difundem no debate público e encontram eco, ainda que suavizado, no texto do relatório. Mais do que ruído discursivo, tais críticas revelam uma leitura política atenta da direção em que a reforma pretende avançar: uma reconfiguração do vínculo público capaz de fragilizar a impessoalidade, a continuidade e a autonomia técnica da administração.

Por isso, a interpretação técnico-jurídica que se fará em momento subsequente somente terá utilidade se estiver ancorada na compreensão das críticas políticas e dos riscos institucionais confirmados pelo relatório. Essa etapa preliminar é decisiva: reconhecer que as preocupações dos servidores não apenas têm fundamento, mas estão refletidas no próprio desenho da reforma, permite orientar uma atuação jurídica mais lúcida e eficaz, apta a se articular não apenas nos tribunais, mas também no debate público sobre o modelo de Estado que se pretende preservar.
 
Foto/Crédito: Escritório Cassel Ruzzarin Advogados Associados
 
Fonte: https://servidor.adv.br/atuacoes/os-servidores-tem-razao-em-se-preocupar-com-a-reforma-administrativa/764?_gl=1*eysnck*_gcl_au*NjUwODYxNTc1LjE3NTk1MDI0MjE.

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