terça-feira, 11 novembro, 2025
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Pesquisa revela que trabalhadores autônomos preferem voltar à CLT, mas são empurrados para a informalidade

Acesse aqui a pesquisa na íntegra

Estudo inédito encomendado pela CUT mostra que mais da metade dos autônomos que já foram celetistas desejam retornar ao regime formal, mas enfrentam precarização e falta de oportunidades.

Um retrato inédito do mercado de trabalho brasileiro, divulgado nesta segunda-feira, desfaz o mito de que o empreendedorismo e o trabalho autônomo são sempre uma escolha voluntária. A pesquisa “O Trabalho no Brasil”, realizada pelo instituto Vox Populi a pedido da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e outras centrais sindicais, aponta que a maioria dos trabalhadores que hoje atuam por conta própria preferiria ter a carteira assinada e os direitos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

O dado mais emblemático do estudo, que ouviu 3.850 pessoas em todos os estados entre maio e junho de 2025, é que 56% dos autônomos do setor privado que já tiveram um emprego formal afirmam que, com certeza, voltariam a ser CLT. Esse desejo é motivado principalmente pela busca por mais direitos e estabilidade.

Empreendedorismo por necessidade, não por opção

A pesquisa introduz um conceito crucial para entender a realidade: o “empreendedorismo de necessidade”. Diferente do empreendedorismo de oportunidade – que surge da identificação de um nicho de mercado e busca inovação –, este é impulsionado pela pura necessidade de sobreviver.

Os entrevistados relatam que foram empurrados para a informalidade devido à precarização do trabalho formal: salários baixos (citado por 44,5% como principal obstáculo a um bom emprego), exigências excessivas (38,7%) e jornadas extensas oferecidas pelos empregadores.

O perfil desses “empreendedores por necessidade” ilustra a realidade:

  1. Ambulante ou sacoleiro
  2. Trabalhador da construção civil (pedreiro, pintor)
  3. Cabeleireiro ou barbeiro
  4. Comerciante de pequeno porte
  5. Cozinheiro (venda de marmitas, doces)

Essas atividades são caracterizadas pela informalidade, baixos investimentos iniciais e alta vulnerabilidade econômica.

A valorização do trabalho e a dura realidade

O estudo mostra uma contradição na percepção dos trabalhadores. Por um lado, o trabalho é altamente valorizado:

  • 7 em cada 10 brasileiros o consideram fundamental em suas vidas.
  • 9 em cada 10 o veem como espaço de aprendizado e valorização pessoal.

Por outro, a realidade cotidiana é marcada por desafios:

  • 55% relatam ansiedade devido à rotina de trabalho.
  • 58% afirmam que o trabalho consome tempo excessivo.
  • 56,5% avaliam que o mercado oferece poucas oportunidades.

A “saudade da CLT” e a busca por estabilidade

A estabilidade financeira aparece como um sonho distante para muitos. Entre os autônomos e empreendedores insatisfeitos, a falta de estabilidade financeira (64,7%) é o maior problema, seguida da falta de benefícios (10%).

Quando questionados sobre o que define um “bom emprego”, as respostas mais frequentes foram: salário digno, estabilidade de renda e flexibilidade de horário.

A vontade de retornar ao regime formal é forte em vários grupos:

  • 59,1% dos trabalhadores do setor privado sem carteira (a maioria MEIs e PJs) afirmam que com certeza voltariam a ter a carteira assinada.
  • Entre as mulheres em atividades de cuidado não remunerado que desejam retornar ao mercado, 52,2% preferem fazê-lo com carteira assinada.

Duas faces da mesma moeda: autônomos vs. empreendedores

A pesquisa faz uma distinção interessante entre quem se declara autônomo e quem se vê como empreendedor. Enquanto 55,3% dos autônomos voltariam ou consideram voltar à CLT, entre os que se declaram empreendedores, 58,9% afirmam que não voltariam.

Isso reforça a tese de que uma parcela significativa dos que se declaram “empreendedores” são, na verdade, trabalhadores autônomos que internalizaram um discurso que minimiza a importância dos direitos trabalhistas. A cada seis pessoas autônomas, apenas uma se considera empreendedora.

Conclusão: Um grito por direitos e segurança

Para o presidente nacional da CUT, Sérgio Nobre, a pesquisa é um retrato claro de que os trabalhadores são forçados à informalidade pela precarização do trabalho formal. “Autodeclarados empreendedores e autônomos são empurrados para esta modalidade pela precarização”, afirmou.

Os números da pesquisa Vox Populi-CUT deixam claro: o desejo por direitos, estabilidade e segurança financeira ainda é o principal anseio da classe trabalhadora brasileira. O “empreendedorismo de necessidade” não é uma opção livre, mas uma estratégia de sobrevivência em um mercado de trabalho que oferece poucas oportunidades dignas.

Foto/Crédito: Reprodução Web

Fonte: https://www.diap.org.br/index.php/noticias/noticias/92555-pesquisa-revela-que-trabalhadores-autonomos-preferem-voltar-a-clt-mas-sao-empurrados-para-a-informalidade

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