Cerca de 5 mil pessoas de 60 países são esperadas para percorrer os rios que cercam a capital da COP30 em um grandioso ato político sobre as águas. Uma das embarcações trará lideranças como Raoni na “Caravana da Resposta”.
Belém (PA) — No próximo 12 de novembro, a partir das 9h da manhã, mais de 200 embarcações transportando cerca de 5 mil pessoas devem se reunir na Baía do Guajará, em frente à capital paraense, em um dos momentos mais simbólicos da Cúpula dos Povos, evento paralelo à COP30. A Barqueata da Cúpula reunirá caravanas que partiram de outros municípios, Estados e países para denunciar falsas soluções climáticas e anunciar que a resposta para um mundo sustentável é o povo das águas, das florestas e das periferias que resiste com suas práticas coletivas, agroecológicas e ancestrais.
A barqueata começará na Universidade Federal do Pará (UFPA), território da Cúpula dos Povos, e seguirá margeando o rio Guamá que depois vira rio Guajará para chegar até a Vila da Barca, área de palafitas que é um enclave social, pois, parte das moradias vive sem nenhum saneamento. São décadas de resistência dos moradores à especulação imobiliária e falta de atenção do poder público.
Na preparação da cidade para a COP 30, a Vila da Barca receberia uma estação de tratamento do esgoto de bairro de classe média embelezado nos últimos meses para compor a paisagem turística. Assim, a área tornou-se um exemplo das contradições das conferências que tomam decisões equivocadas, ignorando os mais impactados pelos eventos climáticos extremos.
Essas contradições serão expostas em faixas, cartazes que ornamentarão barcos de grande e pequeno porte em um percurso de 7 milhas náuticas. A expectativa é sair de quatro portos próximos à UFPA e navegar por cerca de duas horas, tempo médio que leva em consideração a força da maré.
Raoni – Entre os barcos confirmados para a barqueata está a Caravana da Resposta, mobilização que percorre mais de 3 mil quilômetros entre Sinop (MT) e Belém (PA) com mais de 300 lideranças indígenas, ribeirinhas, quilombolas e camponesas. Com o apoio da Cúpula dos Povos, a mobilização organizada pela Aliança Chega de Soja, articulação com cerca de quarenta organizações brasileiras e internacionais, saiu de Santarém neste domingo, 09.
A Caravana refaz o caminho do chamado “corredor da soja”, denunciando os impactos do agronegócio e das grandes obras de infraestrutura — como a Ferrogrão e as hidrovias do Arco Norte — sobre territórios e modos de vida tradicionais. A Ferrogrão é um projeto de ferrovia de 933 km planejada para ligar Sinop (MT) a Miritituba (PA), com o objetivo de escoar grãos (principalmente soja e milho) do Centro-Oeste brasileiro pelo Arco Norte. Mas a sua execução ameaça unidades de conservação, terras indígenas e intensifica o desmatamento na Amazônia.
Durante o ato, devem embarcar lideranças históricas da luta indígena no Brasil, como o cacique Raoni Metuktire, a liderança Alessandra Korap Munduruku e representantes dos povos Kayapó, Panará, Borari, Tupinambá, Xipaya, Arapiun, Huni Kuin e Kayabi, entre outros. A presença desses líderes simboliza o elo entre os povos do Xingu e do Tapajós, regiões onde o avanço da soja e da infraestrutura de exportação tem causado destruição ambiental e violações de direitos.
“Os povos são a resposta”.
Rumo a Belém
A Caravana da Resposta, uma das principais participantes da Barqueata, partiu de Santarém (PA) no dia 8 de novembro, após 5 dias de jornada desde o Sinop (PA). A embarcação traz alimentos agroecológicos produzidos por agricultores familiares e indígenas que serão utilizados na cozinha solidária da Cúpula dos Povos durante os dias de conferência.
Outras caravanas e movimentos sociais que percorrem o país também chegarão a Belém para se somar à Barqueata, tornando o ato uma grande convergência fluvial da sociedade civil rumo à COP30.
Serviço — Barqueata da Cúpula dos Povos
Data: Quarta-feira, 12 de novembro de 2025
Horário: concentração a partir das 9:00 e previsão de chegada às 12:00
Trajeto: da UFPA, bairro do Guamá, até Vila da Barca, no bairro do Telégrafo. Percurso feito nos rios Guamá e Guajará.
Foto/Crédito: Coletivo Apoena Cultural.
Fonte: Cúpula dos Povos





