Foi divulgada hoje (8) a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. Nela, além da diminuição do ritmo no aumento da taxa básica de juros no Brasil, a Taxa Selic, o Copom também trouxe novos dados sobre a meta de inflação para este ano e para 2023.
A Taxa Selic saiu de 9,25% para 10,75% ao ano, a primeira vez desde 2017 que os juros básicos atingem dois dígitos. A justificativa do Copom foi a inflação de alimentos, combustíveis e energia. Já a projeção para a inflação ficou em 5,4% para 2022 e 3,2% para o próximo ano.
Contudo, segundo o presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), Antonio Corrêa de Lacerda, a desaceleração da subida dos juros não basta para melhorar a vida da população. Em entrevista ao Reconta Aí, o presidente da entidade debateu os pontos mais importantes do relatório para a população.
Reconta Aí: Como o senhor vê a sinalização do Copom de reajustar mais lentamente a taxa Selic?
Lacerda: Trata-se de mera calibragem do ritmo de elevação. O fundamental é que a Selic foi crescendo de 2% ao ano no início de 2021 para 10,75% atualmente. Um acréscimo de 8,75 pontos percentuais. De longe a maior elevação de juros no mundo. Não por acaso, o Brasil é o País que tem a maior taxa de juro real (taxa Selic menos a inflação projetada para os próximos 12 meses).
Reconta Aí: Essa “lentidão” prometida será suficiente para não piorar a vida de quem precisa de crédito e da população em geral?
Lacerda: Não, porque, como apontei, a taxa Selic já se encontra em nível muito elevado. E, além disso, a diferença entre a taxa básica e as taxas de juros aos tomadores finais, indivíduos e empresas é descomunal no Brasil. E o quadro só tende a piorar, o que vai agravar a crise e suas consequências como desemprego, quebra de empresas e aumento da inadimplência.
Reconta Aí: Está prevista a redução da bandeira tarifária de escassez na conta de luz da população em abril. O senhor acredita que essa redução pode colaborar com as metas de inflação determinadas?
Lacerda: O primeiro destaque que faço é que as metas de inflação são irrealistas no Brasil. Elas não serão cumpridas. Além disso, as causas da inflação atual sofrem pouca influência das taxas de juros. Ou seja, o País paga o ônus da elevação da Selic, sem o bônus da queda da inflação. Isso porque a inflação atual é de custos (tarifas, matérias primas cotadas no mercado internacional e taxa de câmbio). O juro alto só favorece os rentistas, os credores da dívida pública e aplicadores no mercado financeiro, em detrimento da imensa maioria do povo.
Por Renata Vilela
Foto/Crédito: Imagem de Steve Buissinne por Pixabay (imagem licenciável)