quinta-feira, 17 abril, 2025
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Perda de talentos no funcionalismo: lista mostra cargos com mais saídas

Concursos escada, melhores ofertas no mercado privado e escassez de carreiras estruturadas contribuem para rotatividade de servidores

A saída de servidores altamente qualificados do setor público para outras carreiras ou para a iniciativa privada se tornou um problema crescente no Brasil. Insatisfação salarial, falta de perspectivas de crescimento e condições de trabalho inadequadas são fatores que impulsionam essa evasão, gerando custos e desafios para a administração pública.

Nesse escopo, o Concurso Nacional Unificado (CNU) surgiu como uma tentativa de organizar as seleções públicas em eixos temáticos e carreiras transversais, mas a questão da retenção de talentos exige soluções mais amplas. O turnover – a rotatividade de servidores – ocorre de maneira desigual entre órgãos públicos, regiões e esferas governamentais.

O especialista em gestão pública Antonio Batista destaca que as carreiras de TI estão entre as mais afetadas pela evasão.

– Ainda faltam estudos mais detalhados sobre essa área, mas sabemos que o Brasil sofre com a escassez de mão de obra qualificada em TI. O país é o nono no ranking global de falta de profissionais qualificados nesse setor, entre 40 países analisados.

Em 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu o problema, afirmando que o setor privado “rouba” servidores ao oferecer melhores salários.

Fenômeno ocorre em menores e maiores remunerações

Entre as carreiras com menores remunerações, é comum o chamado turnover interno, no qual servidores deixam seus cargos para ingressar em outras funções públicas mais bem remuneradas. Esse fenômeno deu origem à expressão “concurso escada”, que define cargos de ingresso mais acessíveis, mas que servem como trampolim para carreiras mais vantajosas.

Um levantamento da Escola Nacional de Administração Pública (Enap) realizado no ano passado revelou que mais de 35 mil servidores públicos federais estão, pelo menos, no segundo cargo dentro do governo.

Além disso, há o turnover externo, em que profissionais deixam o setor público diretamente para a iniciativa privada. Isso é especialmente comum entre profissionais de tecnologia da informação (TI), que encontram no mercado privado salários mais atrativos e maior valorização, sem enxergar perspectivas de crescimento dentro do serviço público.

Estrutura complexa

Segundo um outro Enap, também de 2024, o tempo médio de permanência de servidores em seus cargos é de 10,28 anos, com um desvio padrão de 5,77 anos. Esses dados indicam que, embora muitos servidores permaneçam por longos períodos, há um grupo significativo que opta por migrar para outras oportunidades.

– A fuga de talentos no funcionalismo público gera custos consideráveis. A necessidade de substituir servidores implica gastos com novos concursos, treinamentos e tempo de adaptação dos recém-ingressos. Além disso, equipes inteiras podem ser desestabilizadas quando profissionais qualificados deixam seus postos, afetando a continuidade de projetos e a qualidade do atendimento à população – considera Batista.

A complexidade da estrutura de carreiras no Brasil agrava o problema. Atualmente, o país possui mais de 100 carreiras públicas distintas, cada uma com regras específicas e remunerações significativamente diferentes, mesmo para funções similares.

– Essa fragmentação contrasta com modelos adotados por outros países, como os Estados Unidos, que possuem uma única carreira civil federal, e Espanha e Portugal, que reduziram suas carreiras para cerca de uma dúzia – aponta Sérgio Camargo, advogado especialista em Direito Público.

Procurado, o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos não se manifestou a respeito de nenhuma demanda da reportagem.

Veja lista de cargos com maior número de saídas no serviço público

De acordo com a Enap, são:

    1. Assistente administrativo
    2. Agente administrativo
    3. Professor do ensino básico, técnico e tecnológico
    4. Técnico de laboratório
    5. Auxiliar de administração
    6. Técnico de tecnologia da informação
    7. Assistente técnico
    8. Oficial de chancelaria
    9. Tecnologista
    10. Técnico do seguro social

 

Foto/Crédito: CUT

Fonte: https://extra.globo.com/economia/servidor-publico/coluna/2025/04/perda-de-talentos-no-funcionalismo-lista-mostra-cargos-com-mais-saidas.ghtml

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