No vídeo postado por um jornalista de Alagoas, uma senhora, aposentada, diz que continua trabalhando, mas quando vai ao supermercado não sabe o que comprar porque está tudo muito caro
Quanto menor a renda, mais difícil fica fazer compras e alimentar a família de forma adequada em épocas de inflação em disparada, desemprego em alta e arrocho salarial. É isso o que revelam inúmeras pesquisas, mas pesquisas são números, estatísticas, nada se compara ao relato de uma senhora que viralizou nas redes sociais ao contar que não sabe mais o que comprar para comer.
O jornalista Cau Rodrigues, do G1 de Alagoas, publicou em seu perfil no Twitter um vídeo curto, extremamente forte da aposentada que chora ao dizer que está tudo tão caro que ela não sabe mais o que comprar.
“Os valores são tão altos que a gente chega e não sabe mais o que comprar. Tudo muito caro, tudo muito alto. A gente não sabe mais nem o que comer”, diz a senhora que se emociona e chora. “A gente não compra mais carne, o dinheiro não dá”, afirma.
“Eu sou aposentada e continuo trabalhando [mesmo assim] a gente chega para fazer compras e não sabe mais o que comprar”, conclui a senhora no vídeo que já tem mais de 11 mil curtidas, 2.300 retuites e mais de mil comentários.
Os preços nos supermercados cada vez mais altos e a renda cada vez menor. O desespero dessa senhora é de partir o coração pic.twitter.com/H50VMHt9ZD
— Cau Rodrigues (@zeroCau) July 14, 2021
Inflação corrói mais a renda dos pobres
Esta senhora faz parte da classe média com renda baixa ou muito baixa, que são os grupos mais afetados pela escalada da inflação, que atingiu 8,35% nos últimos 12 meses, de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de junho divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O peso da inflação é enorme no orçamento das famílias de baixa renda até porque os preços que mais aumentaram foram de itens essenciais como transporte, energia e alimentação – em junho, só as carnes, que a senhora do vídeo não pode mais comprar, registraram o quinto aumento consecutivo e acumularam alta de 38,17% em 12 meses.
A Carta Conjuntura divulgada nesta quarta-feira (14) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) sobre indicadores de inflação por faixa de renda , apontou que a inflação das famílias de renda muito baixa foi quase o dobro (0,62%) da registrada na faixa de renda alta (0,36%).
No acumulado do ano até junho, quando saiu a última pesquisa do IBGE, as maiores taxas de inflação estão nas classes de renda média e renda média-baixa, com alta de 4,0%.
Para o segmento de renda muito baixa, a inflação acumulada, em 2021, é de 3,6%, acima, portanto, da apontada pela faixa de renda alta (3,4%).
Ainda segundo o IPEA, nos últimos doze meses, a taxa de inflação das famílias de renda muito baixa (9,2%) segue em patamar acima da observada na faixa de renda alta (6,5%).
E a tendência é piorar. De acordo com o Boletim Focus, pesquisa feita com economistas do mercado financeiro, divulgada pelo Banco Central (BC), o mercado subiu de 5,97% para 6,11% a estimativa para a inflação de 2021.
Esta foi a 14ª vez consecutiva que os operadores aumentaram as projeções para o IPCA deste ano.
Escrito por: Marize Muniz